Valor do trabalho… e da vida

Hoje eu recebi uma visita que me trouxe muitas lembranças. Esteve à porta de minha casa um senhor oferecendo cartelas de especiarias. Viajei…

Marcos Massari, de 42 anos, vai de casa em casa apresentando seu produto: um kit com meia dúzia de pacotinhos com temperos. Ele e a esposa recebem uma cota desses produtos periodicamente de uma associação cristã e saem para os bairros em busca de um troco e poder levar alguma comida para casa. Uma alternativa em tempos de pandemia.

…viajei e me emocionei. Eu me emocionei ao lembrar do meu primeiro trabalho. Foi na minha infância, em Bauru/SP. Devia ter nove para dez anos. Meu pai havia levado um “tombo” profissionalmente e passávamos por dificuldades. Um de meus tios, muito solidário, me proporcionou uma oportunidade de vender especiarias. Assim como Marcos Massari, no contraturno da escola, eu saia para os bairros, de casa em casa. Pacotinho na mão e…

– Quer comprar cravo, canela, bicarbonato, pimenta-do-reino, erva-doce, colorau… (?)

Esta indagação, tantas vezes ao dia, se tornou um “mantra”…

– Quer comprar cravo, canela, bicarbonato, pimenta-do-reino, erva-doce, colorau… (?)

Por vezes, uma de minhas irmãs me acompanhava. Conhecemos muito bairros, ruas de calçamento com paralelepípedos, ruas “de terra” (como chamávamos em Bauru), casas “bonitas” e casas simples, de gente rica e de pobres… o mesmo mantra.

Foi uma vivência extraordinária. Desde então, experimentei um pouco do que era uma batalha cotidiana para qualquer trabalhador. No que era possível compreender naquela idade, pude sentir o valor do trabalho. Acima do “dinheirinho” que podia render com aquelas vendas, pude ver e enxergar diversidades – pessoas de várias classes socioeconômicas, brancos, negros, caboclos, alegres ou tristes, humildes… felizes porque humildes. Como Marcos Massari e sua esposa veem todos os dias. Pude sentir um pouco o valor da vida!

Aos 13 anos, comecei a trabalhar como office-boy num escritório de contabilidade. Mas essa… já é “outra história”.

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